O que é a Colelitíase, pedras na vesícula biliar?

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Dr. Marcelo Souto

Índice de Tópicos

Tempo de leitura: 4 minutos

A vesícula biliar é um órgão de 7-10 cm que fica sob o fígado. A bile, que é produzida pelo fígado, escoa pelos canais biliares até ela, que irá concentrar e armazenar a bile. Após as refeições, a presença do conteúdo alimentar no intestino ocasiona a liberação de hormônios que induzem a contração da vesícula, expulsando a bile pelo colédoco até o duodeno, logo após o estômago, onde ela deságua junto com o canal do pâncreas. A bile emulsiona as gorduras, facilitando assim sua absorção.

Fatores de Risco

São fatores de risco para a sua formação o gênero feminino, idade (risco aumenta com a idade), história familiar, gestações, uso de estrogênio, obesidade, perda de peso acelerada, diabete melito, dentre outros.

Frequência

A ocorrência de pedras é comum, ocorrendo em aproximadamente 10% da população brasileira. A composição pode ser de colesterol (80%) ou bilirrubinato de cálcio (20%), variando enormemente em número e tamanho e não apresenta relação com a presença de sintomas. Felizmente, nem todos os acometidos precisarão operar.

Sintomas

A principal indicação de tratamento são os sintomas. A dor típica é um aperto ou pressão intenso, contínuo, acima do umbigo (na “boca do estômago”) ou sob as costelas à direita, podendo irradiar para as costas ou ponta da escápula à direita também. Pode durar entre 30-90 minutos, desencadeada por refeições pesada ou ocorrendo de noite/madrugada. Náuseas, vômitos e mal-estar podem acompanhar. À medida que a vesícula relaxa, a dor passa. Uma vez que o paciente passa por uma crise de dor, a tendência é haver novas crises nas mesmas circunstâncias. A presença de outros sintomas como arrotos, estufamento, regurgitação, distensão/inchaço abdominal ou queimação pode não estar relacionada aos cálculos, e não resolver com o tratamento.

Se uma pedra obstruir totalmente o canal da vesícula (ducto cístico), se desenvolve uma colecistite aguda, ou seja, um quadro inflamatório. Nesta situação a dor não melhora com o tempo e pode ocorrer febre, prostração, perda de apetite. Ao procurar atendimento de urgência, além da história clínica, alguns achados no exame físico, nos exames de laboratório e exame de imagem fecham o diagnóstico, sendo necessária internação, uso de antibióticos e cirurgia em breve.

Quando uma pedra avança pelo ducto cístico, chegando no canal principal da bile (o hepato-colédoco), outras complicações como icterícia (“amarelão”) e pancreatite aguda podem ocorrer. As pedras na vesícula são responsáveis por cerca de 70 % dos casos de pancreatite aguda, embora uma minoria das pessoas com pedras na vesícula terá esta complicação.

Qual exame realizar?

O melhor exame diagnóstico é a ecografia (ultrassonografia), mas as pedras também podem ser detectadas em outros exames.

Na ausência de sintomas ou de outra complicação, o tratamento não é obrigatório, sendo possível manter vigilância. De 70 a 90 % dos pacientes nunca terão sintomas e, geralmente, o primeiro sintoma é uma crise típica, sendo muito raro a ocorrência de complicações em alguém que não teve crise anteriormente.

Tratamento Cirúrgico

O tratamento é a remoção da vesícula por cirurgia minimamente invasiva – a videolaparoscopia. São quatro incisões de 5 a 10 mm para introdução de uma câmera e pinças de trabalho, para a execução do procedimento similar à técnica aberta: o canal da vesícula (ducto cístico) é seccionado entre clipes de titânio, bem como a artéria da vesícula. O órgão é descolado do fígado com auxílio do bisturi elétrico, prevenindo sangramentos. A vesícula é esvaziada e removida por uma das incisões. A cirurgia é realizada sob anestesia geral. Esta técnica, desenvolvida na década de 80, gera menor dor pós-operatória, internação mais curta (atualmente, o paciente recebe a alta hospitalar da sala de recuperação entre quatro a oito horas após o procedimento), benefício estético e retorno mais rápido às atividades.

Esta é uma das cirurgias mais frequentes da especialidade, com um índice muito baixo de complicações. Porém, como todo procedimento, elas podem ocorrer. As mais comuns são hematoma ou equimose nas incisões. Mais raramente ocorre infecção ou abscesso, principalmente quando a vesícula está inflamada. Apesar de muito raras, as complicações mais temidas são lesão no canal da bile (via biliar principal) e lesão no intestino (um risco presente no momento de introduzir a cânula metálica da câmera e insuflar o abdome com gás). A técnica operatória meticulosa diminui esses riscos.

Como uma vesícula cheia de pedras já não cumpre adequadamente sua função, sua retirada não acarreta problemas. Raramente ocorrem sintomas como fezes amolecidas ou diarreia, flatulência (gases) e desconforto abdominal, e na maioria dos casos são leves e melhoram com o passar dos meses.

Apesar de estar descrito na literatura médica o tratamento das pedras com ácido ursodeoxicólico, um medicamento que pode dissolver o colesterol dos cálculos, este tratamento não costuma ser utilizado, pois a indicação é restrita a pedras de colesterol, menores de um centímetro e pacientes com sintomas leves.

Além disso, tem de ser utilizado por mais de um ano, falha em pelo menos metade dos casos, e mesmo que as pedras sejam dissolvidas, podem ressurgir após a cessação da medicação. Nesse contexto, se há sintomas, a cirurgia é mais resolutiva.

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